Todo país tem sua coleção de gírias e expressões para falar de dinheiro.
No Brasil, os apelidos são muitos: bufunfa, caraminguá, conto, dindim, grana, merréis, paus, pila, prata, tostão, trocado, tutu e vintém são os que eu mais ouço, mas existem outros.
A França também coleciona suas gírias: balles, blé, brique, fric, pognon, rond(s), sou(s) e thune são alguns exemplos. Vamos ver em que situações elas são usadas?
FRIC e POGNON
Fric é provavelmente o apelido mais popular para argent. O registro não chega a ser neutro, mas também não é chulo. Prova disso é que fric pode ser visto ou ouvido na imprensa e até na boca de políticos.
Pognon também é muitíssimo usado, inclusive na mídia. Para meus ouvidos, o registro é um degrauzinho abaixo de fric, mas sem cair na familiaridade excessiva.
Acredito que a tradução mais adequada para fric e pognon seja “grana”, um termo popular e informal, mas sem conotação negativa.
Gosto de dar exemplos:
Autrement dit, tu as besoin de fric, c’est ça ?
Ou seja, você está precisando de grana, é isso?
Avec ce nouveau chantier, ils vont se faire plein de pognon.
Com esse novo empreendimento, eles vão ganhar uma baita grana / uma nota / uma bolada.
BLÉ e THUNE
Em comparação com fric e pognon, blé e thune (ou tune) pertencem a um registro bem mais familiar. Não são vulgares, mas são gírias das boas, usadas exclusivamente em ambientes informais. Portanto, é melhor não usar com pessoas que você não conheça bem, pode parecer inconveniente.
Demain je vais essayer de récupérer de la thune chez mon daron.
Amanhã, vou ver se pego uns trocados / uns caraminguás / uma grana / uma prata com meu velho.
Pour se faire du blé, elle travaille comme nounou de temps en temps.
Para ganhar uma graninha / uns merréis / um trocado / um dindim, ela às vezes trabalha como babá.
Desenho de Pierre Ballouhey
DES SOUS ET DES RONDS
Para mim, sous é o mais carinhoso de todos os apelidos franceses do dinheiro. É gíria, mas uma gíria fofa que pode ser usada até em conversas com crianças.
Maman a donné des sous à un SDF dans le métro.
Mamãe deu dinheiro / uma moedinha / um trocado a um moço pobre no metrô.
UN SOU, TROIS SOUS
Poucos sinônimos de dinheiro são contáveis, mas sou, que no passado designava uma moeda de cinco centavos, pode ser usado com alguns numerais em contextos específicos:
Trois sous designa geralmente algo de pouco valor ou uma quantia insignificante.
Ce dispositif n’est rien de plus qu’un tas de pièces qui coûtent trois sous.
Esse equipamento não passa de um amontoado de peças que custam uma merreca / uma mixaria / uma ninharia.
Un sou costuma ser usado em frases negativas, hiperbolizando a escassez de dinheiro.
J’ai oublié mon sac à la maison, je n’ai pas un sou sur moi.
Esqueci a bolsa em casa, não tenho um puto / um centavo sequer no bolso.
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Rond funciona de forma muito parecida:
Pourvu qu’elle me paie demain, je n’ai plus un rond.
Tomara que ela me pague amanhã, não tenho nem mais um tostão / um centavo. [OU: Tomara que ela me pague amanhã, minha grana acabou / estou sem nenhum.]
BALLES e BRIQUES
Brique é uma gíria meio antiga, mas nunca se sabe quando vai aparecer num texto ou artigo que você precisa traduzir.
No sentido próprio, brique é um tijolo. No sentido figurado, difere dos demais sinônimos porque, no século passado, designava não um franco, mas dez mil francos.
Comment veux-tu que je trouve trois briques du jour au lendemain ?
Como você quer que eu arranje trinta mil francos de uma hora para outra?
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Balle também é antigo, mas ainda se ouve em conversas informais. A conversão para o euro se deu sem problemas, depois de anos a serviço do franco.
Le gars me réclame 500 balles pour emporter le frigo.
O cara está me cobrando 500 paus / contos / pilas / euros para levar a geladeira.
Da mesma forma que sous, as expressões à deux balles / à trois balles designam algo de pouco valor.
FERRAILLE
Ferraille é um coletivo que designa moedinhas de pouco valor, ou seja, moedas de centimes de euros, que se dividem em pièces rouges (um, dois e cinco centavos) e pièces jaunes (dez, vinte e cinquenta centavos). Essa classificação não é aleatória: vermelho e amarelo são realmente as cores do metal com que são feitas as moedinhas.
Mon porte-monnaie est plein, mais ce n’est que de la ferraille.
Minha carteira está cheia, mas só tem moedinha pequena / moedinhas de centavos.
Dinheiro é um assunto que rende (embora nem sempre seja o caso do dinheiro em si!). Há todo um vocabulário específico que, ainda por cima, evolui constantemente. Já separei algumas palavras e expressões para um próximo artigo, este já está ficando um pouco longo.
Le beurre et l’argent du beurre
Antes de terminar, gostaria de saber como você traduziria a expressão vouloir le beurre et l’argent du beurre.
Nunca precisei traduzi-la profissionalmente, mas é uma expressão muitíssimo usada na França. Ainda não encontrei um equivalente em português que seja tão eficaz e autoexplicativo quanto a expressão francesa. Vou listar aqui algumas sugestões que, em função do contexto, podem funcionar, mas não sei se dão conta de todas as situações.
querer [algo/tudo] de mão beijada
querer tudo e mais um pouco
querer o bônus sem o ônus
querer tudo sem dar nada em troca
Mais alguma ideia?
Se você não entendeu o título deste post (si t’as pas la réf, dizem os jovens), ouça esta marchinha de Carnaval. Lançada em 1959, fez muito sucesso durante anos e anos, tornando-se uma referência cultural para várias gerações.
No guia Nas Entrelinhas, você encontra sugestões de tradução e exemplos de frases com diversos verbetes do universo do dinheiro: appoint, faire l’appoint, emprunter, encaisser, monnaie, pièce, prélèvement, rentrée d’argent etc.
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Na semana passada, não deu para enviar a newsletter. Sinto muito. Como diria nossa querida Mafalda…
E o que mais? / Et quoi encore ?
Novidade: na semana que vem, devem chegar à França alguns exemplares do guia Nas Entrelinhas. Se você quiser adquirir a versão impressa, envie um e-mail para mim e vamos combinar.
Também na semana que vem, vou tentar participar do Colóquio Internacional Discurso, Linguagem e Poder, em Lyon. Não sei se estarei presente durante os três dias, mas se você pretende ir, vamos conversar!
Várias entidades brasileiras estão se mobilizando para ajudar as vítimas da enchente no Rio Grande do Sul. Se puder, participe também. Minha contribuição foi para a Central Única das Favelas (CUFA), mas existem outras formas de ajudar. Se você estiver na França, siga esta página para saber como ajudar.
As palavras e expressões que aparecem em itálico e negrito (às vezes sublinhadas ou coloridinhas – depende das configurações de cada um) são verbetes apresentados no Entrelinhas. Como o Substack não oferece muitos recursos de formatação de texto (nem sublinhar eu posso!), o único jeito que encontrei para destacá-las foi criando links para o livro. Os links para outras páginas também aparecem em destaque, mas sem negrito e geralmente em caracteres não itálicos.
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une autre notion fait l'objet d'une foule incroyable d'expressions en français : partir, s'en aller. Y en a-t-il autant en portugais ?
Merci pour cette analyse, aussi utile pour les lecteurs brésiliens... que pour nous faire comprendre les nuances portugaises aux francophones. J'ajouterais à cette belle liste quelques expressions amusantes : tout d'abord, les "pépètes", expression mi-enfantine mi-argotique que l'on trouvera souvent dans les films ou les BD. Ensuite "l'oseille", qui est une plante comestible, est-ce sa valeur qui a amené à la considérer comme synonyme d'argent ? Je ne sais, mais on retrouve l'oseille dans les films de gangster de l'après guerre. Et puis, l'une de mes préférées, le "grisbi" passé à la postérité grâce au film mythique "Les tontons flingueurs" et son célèbre "Touche pas au Grisbi, s....." prononcé par Jean Gabin. L'expression est devenue tellement célèbre qu'on en trouve des affiches dans les carteries.